sexta-feira, 16 de julho de 2010

As mãos em cima da Copa e a Arte em cima do Design.

Copa%202014

Agora é oficial, o logo da Copa 2014 será aquela taça cheia de mãos querendo se apossar dela. Aquele mesmo que tem o 2014 em um vermelho estranho, pois que me recorde não possuimos nenhuma referência a esta cor em nada que simboliza o Brasil. Aquele que o R e o C ao lado parecem ter sido marcas de ferro em gado, provavelmente para deixar claro que o Roberto Carlos é do Brasil…quem sabe…

Apesar dos comentários irônicos acima, respeito a idéia do logo, só podia ter sido melhor executada. Também não vou entrar na tentação de dizer que é feio ou bonito, não é isso que um Designer tem que avaliar, tem é que avaliar questões técnicas e se a marca transmite a mensagem correta.

Bom, já existem profissionais demais avaliando se está correto ou não, gente muito mais gabaritada do que eu para discorrer do assunto inclusive. Portanto vou olhar a questão de outro ponto de vista.

Comitê de Notáveis

O que mais me chamou a atenção nisso tudo, não foi a marca em si. O que realmente me chamou a atenção foi a escolha do comitê de aprovação. O comitê era composto por nomes como: Ricardo Teixeira (O Cliente), O Presidente Lula (Representando a sociedade brasileira), Ivete Sangalo (música), Gisele Bündchen (moda), Oscar Niemeyer (arquitetura), Paulo Coelho (literatura) e Hans Donner (único Designer da lista).

Se formos analisar, tirando o Lula e o próprio Ricardo Teixeira, temos uma seleção de artistas para aprovar o que foi visto pelo cliente como uma peça de arte. Então nada mais lógico do que chamar artistas renomados de diversas áreas para aprovar a marca! Inclusive o Design foi contemplado na presença do Hans Donner, porém foi encarado como mais uma modalidade de arte.

Não viram a marca como uma peça de comunicação de um evento que não ocorre a mais de 50 anos no país! Viram como uma escolha entre diversas peças de arte. Visto desse ponto de vista fica absolutamente explicado porque a comunidade de Design tem criticado tanto o logo, ele não foi encarado como trabalho de Designers em nenhum momento e se soubermos o nome do idealizador, com  certeza será referenciado como artista gráfico ou algo do tipo.

Arte é uma parte importante do Design, mas não é Design. Uma peça de arte é questão de gosto. Uma peça de Design é questão de comunicação.

Enfim…

E agora é isso que temos aí. Uma marca que só consegue ser defendida na base do “ah, eu gosto da marca da copa” ou “eu achei bonito, não está feio”.

Encerrando, acredito que isso vai ser positivo para o Design Brasileiro. Pela primeira vez está ficando claro de forma gritante para a sociedade, o que nos diferencia de artistas. Quais as prerrogativas de um bom Design. Não me recordo de outro momento que os Designers tiveram tanta voz, quanto para se unirem e apontarem os defeitos da marca da Copa!

Enfim, a taça já está aprovada e só nos resta agora desejar boa sorte ao Designer que a criou, pois com certeza ele é a pessoa que mais está aprendendo com esse episódio e sorte ao Design Brasileiro, e esperar que um dia o mercado finalmente entenda a diferença entre Arte e Design.

Um comentário:

Glauco disse...

Daniel, de fato concordo que design não é arte, é fundamentalmente um conceito que deve ser expresso de diversas maneiras (grafica, digitalmente, por exemplo), para transmitir um conceito e/ou uma idéia. Além disso, deve conter coerência e o vermelho destoante no logo da taça, não cumpriu este propósito. Parabéns pelo artigo!